quarta-feira, dezembro 16, 2015

David Gilmour emociona público em São Paulo com músicas de Pink Floyd

São Paulo é levado para outra dimensão pela primeira vez através da janela aberta por David Gilmour e seu conjunto impressionante de músicos.


A primeira vez de David Gilmour em São Paulo não poderia ter sido diferente. Após expectativas mil, finalmente a voz e guitarra do Pink Floyd toca na cidade da garoa. Lançando seu mais novo álbum, Rattle that Lock, Gilmour se apresentou diante de um estádio lotado, com 45.000 pessoas cantando suas músicas. O impressionante jogo de luzes, combinado com as imagens no telão redondo logo acima da banda, impressionava pela resolução e similaridade com o que foi utilizado na turnê de Pulse, do Pink Floyd. David Gilmour começa seu show com 5 A.M. de seu mais novo lançamento Rattle that Lock emendando com mais duas do mesmo álbum, Rattle that Lock e Faces of Stone - uma das músicas mais incríveis deste álbum novo. O primeiro clássico do Pink Floyd da noite levou as pessoas no estádio á loucura, Wish You Were Here foi comemorado como um gol do Palmeiras naquela noite - tendo em vista que o show ocorreu no Allianz Parque, novo estádio do time alviverde de São Paulo. Celulares iluminavam a arena como luzes numa árvore de natal. Incrível momento de união poderia ser sentido, exceto para algumas pessoas que eram intimadas a abaixarem seu celular pois constantemente filmavam o que acontecia no palco, incomodando aos que queriam ver o show. Antes de iniciar A Boat Lies Waiting, Gilmour pediu que a platéia fizesse silêncio para uma das músicas mais introvertidas do álbum Rattle that Lock. Era impressionante o talento dos backing vocals até agora, pois faziam uma harmonia incrível com a voz de Gilmour. Com a próxima música da noite, The Blue, do álbum On An Island (2006), Gilmour deixou a platéia extasiada com o grande trabalho de guitarra. O público voltou a agitar muito com Money, outro clássico do Pink Floyd vindo do grandioso multiplatinado The Dark Side of the Moon (1973). Destaque para o garoto João de Macedo Mello, o multi-instrumentista de 20 anos e seu saxofone, que levaram o público ao delírio com seu solo de de sax no ponto alto da música. Incrível!
O próximo gol da noite foi com Us And Them, também do álbum The Dark Side Of The Moon
(1973), mais uma vez provando que João não foi escolhido só por ser brasileiro, mas sim por ser um excelente músico. Com In Any Tongue, do álbum Rattle that Lock, Gilmour mostrou sua grande crítica ás guerras no telão, mostrando em desenhos, um soldado matando uma criança, por acaso e possivelmente inocentes em um ambiente que parecia ser o Iraque. O soldado entrou em conflito e seu coração não quis mais guerra - no final da música o mesmo soldado acaba morrendo naquele deserto, sozinho e um ciclo se fecha. O recado foi forte e me pegou de surpresa. Para aliviar a tensão o sino era iluminado por uma luz no palco e High Hopes, do álbum The Division Bell (1994), revelava suas primeiras notas. Que música incrível. A voz suave e mágica de Gilmour combinada com o piano vibravam pelo estádio, levando a maioria para aquele Mundo retratado no telão, com céu azul e campos que não possuíam fim. Com o fim da música, Gilmour anuncia que teremos 20 minutos de intervalo, deixando assim o palco. As luzes se apagam e a banda retorna para a segunda parte do show com Astronomy Domine, do álbum The Piper of the Gates of Dawn (1967), composta pelo guitarrista/vocalista Syd Barret, falecido em 2006 com 60 anos vítima do câncer ou do diabetes - não se tem certeza ao certo. A banda emendou logo com Shine On You Crazy Diamond, do álbum The Dark Side Of The Moon (1973) (levando mais uma vez o público ao delírio, e a cena do Mar de celulares ligados se repetia. O público em si fazia um show por si só, cantando as músicas de cabo a rabo em uníssono. Impressionante. Um dos momentos mais interessantes foi a escolha de Gilmour em tocar Fat Old Sun do álbum Atom Heart Mother (1970) - aquele da vaca na capa. Tenho certeza de que ele juntou o útil ao agradável, já que a música é de sua autoria - uma curiosidade é que Gilmour gravou todos os instrumentos quando a música foi gravada no Abbey Road Studios.
A maioria nem percebeu que aquela música se tratava de uma música de um dos melhores álbuns do Pink Floyd. Gilmour continuou seu set com a música do álbum On An Island (2006), chamada On An Island emendando em ritmo noir a incrível The Girl In The Yellow Dress e Today - que finalmente contou com solos de Phil Manzarena, ambas do álbum Rattle that Lock. Impressionante foi a escolha de Sorrow do álbum A Momentary Lapse of Reason (1987) para este show - outra música composta por David Gilmour para o Pink Floyd. Disse ele em algumas entrevistas que esta música foi escrita a princípio como um poema e depois a música foi escrita para ele - foi utilizada uma bateria eletrônica para esta música nas gravações. Com Run Like Hell, do The Wall (1974), muitos presentes confundiram esta com Another Brick In The Wall, do mesmo álbum, o que achei no mínimo estranho - pois havia muitos fãs de Pink Floyd na platéia. O guitarrista depois se despediu do público apenas para voltar novamente com Time, do álbum The Dark Side Of The Moon (1973) - um verdadeiro clássico do Pink Floyd, emendando com Breathe (In the Air) do mesmo álbum - um momento em que o ar já me faltava de tanta apreensão.
David Gilmour e sua guitarra havaiana (slide guitar) são simplesmente únicas e cativantes. O inglês terminou seu show com nada mais, nada menos que Comfortably Numb, do álbum The Wall, levando muitos a chorar copiosamente - principalmente na hora do solo de Gilmour, considerado um dos solos mais bonitos já criados para uma música. Assim terminava a catarse coletiva, um dos momentos mais incríveis já presenciadas por este que vos escreve. Fico feliz que David Gilmour continua tocando e criando músicas incríveis e que nunca se esqueça do que rolou naquele estádio. Certamente ocorrerá todas as vezes que voltará a tocar aqui. Inesquecível!

sexta-feira, dezembro 11, 2015

Coletiva de Imprensa David Gilmour

Antes dos shows que ocorrerão no Brasil e na América do Sul, David deu uma coletiva de imprensa, falando sobre o álbum novo Rattle That Lock e sua relação com Roger Waters.


David Gilmour, ex-guitarrista e vocalista da banda inglesa Pink Floyd, está no Brasil para uma série de apresentações. A primeira delas será nesta sexta-feira, 11, no Allianz Parque, em São Paulo, e a segunda no dia 12, sábado, no mesmo local. O restante dos shows no Brasil são Curitiba (14, Pedreira Paulo Leminski) e Porto Alegre (16 na Arena do Grêmio). O músico de 69 anos participou de uma entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira, 10, ao lado do palco em que ocorrerão os shows em São Paulo.
Com bom humor, educação, mas bem ligado nas perguntas, Gilmour respondeu que não tem ainda opinião formada sobre o Brasil. Disse ele, que só conhece o que viu dentro da van – despertando risadas nos jornalistas presentes. “Eu desembarquei, passei rápido pelo hotel e vim para cá falar com vocês” – disse. Mas, óbviamente, disse que a primeira vez em um país é sempre estimulante, principalmente no Brasil. David disse que sempre quis vir ao Brasil e por sorte desta vez deu tudo certo e está aqui em um bom momento, disse o inglês com um sorriso no rosto. “Ainda estou vivo e minha vida é esta, tocar”, completou. David disse ainda que não tem nada de diferente ou especial preparado para o público brasileiro. Complementou garantindo,  no entanto, que o show por si próprio será algo bem especial.

Confessou para os jornalistas presentes não conhecer quase nada da música ou da cultura brasileira, mas também aliviou que agora tem uma conexão com o nosso país – o novo saxofonista dele, João de Macedo Mello, de 20 anos, que também estava na coletiva, nasceu no Paraná. Quanto ao setlist do show, será uma mistura de material solo, dando ênfase as faixas do Rattle That Lock, seu álbum solo mais recente, e algumas clássicas do Pink Floyd. Disse ainda que homenageará o cultuado Syd Barrett, primeiro guitarrista da banda, com a viajante e espacial “Astronomy Domine”. Gilmour no obstante garante que é difícil montar um repertório que agrade todo o mundo. “Eu tenho que ficar satisfeito com o que toco no palco, assim como o público, é claro”, diz ele. “Mas é muito material, muita coisa. É natural que algumas coisas fiquem de fora”, explica.
Também estavam na coletiva o guitarrista Phil Manzanera (ex-Roxy Music e produtor dos álbuns desde On an Island, de Gilmour) e Polly Samsom, esposa de Gilmour, escritora, letrista e jornalista do The Observer, resposnável pelas letras de The Division Bell (1994), do Pink Floyd, como também  auxilia nos projetos solos do marido. “Eu e a Polly colaboramos há mais de 20 anos. É uma satisfação trabalhar com Polly. Ela me ajuda de muitas formas. Polly também está no Brasil para divulgar o livro Um Ato de Bondade (The Kindness em inglês), que está saindo pela editora Record. O legal que David Gilmore pronunciou o nome do livro em português, levando todos na sala a se surprender com tal ousadia.
Sobre as comparações de seu álbum “Rattle that Lock” lançado este ano com o álbum mais pop de sua carreira, o ótimo “About Face” (1984), David disse que Phil somente juntou músicas que ele compôs e as produziu e que não era intenção de Phil, muito menos de David, fazer deste álbum novo, um álbum de fácil audição e sim, um álbum que retrata seu momento pessoal na vida. Como todos já devem saber, o Pink Floyd nunca mais retornará, apesar de Gilmour e o baixista Roger Waters não se odeiam mais tanto como nos anos 1980 e 1990. O guitarrista recorda que a última vez que os integrantes do Pink Floyd tocaram juntos, em uma ocasião especial no Live 8 em 2005, houve tensão e recordações indesejadas. “Aquela foi uma causa beneficente importante e não podemos falar não para os organizadores”, ele recordou. “Mas teve momentos de tensão e discussão. Eu pensava: ‘por qual motivo ainda estou ao lado dessa gente?’ E quanto ao Roger, eu tive que lembrá-lo que ele era apenas um convidado naquela ocasião. Ele interferiu, quis mexer no repertório, mas a minha palavra prevaleceu” -disse. Sobre seu aparecimento surpresa dele e do ex-baterista Nick Mason em um show de Waters no O2, em Londres, em 2011, Gilmour lembra: “Bem, aquilo começou como piada”, disse o guitarrista. “Nós iríamos cantar, só de brincadeira, ‘To Know Him is To Love Him’, dos Teddy Bears, ex-grupo do Phil Spector. Fazíamos essa nos ensaios do Pink Floyd. Mas resolvemos no final fazer 'Comfortably Numb', de The Wall. E deu certo”.