terça-feira, julho 03, 2012

Grave e Samael – Hangar 110
17.06.2012

A noite em que a música eletronica colidiu com o death metal em São Paulo!

Grave

Mais uma vez temos o Grave em São Paulo e vemos poucas pessoas prestigiando uma das poucas bandas de death metal que ainda propagam o lendário “Dödesmetal” da Suécia. A maioria que veio ao Hangar 110 nesta noite são fãs dos Suiços Samael, que vem ao Brasil pela primeira vez em 20 anos de história. O Grave, formado pelo fundador Ola Lindgren (vocal/guitarra), Mika Lagrén (guitarra), Ronnie Bergerstahl (bateria) e Tobias Cristiansson (baixo) trazem em sua bagagem um álbum a ser lançado este ano chamado “Endless Procession Of Souls” que deverá ser lançado ainda este ano e um novo integrante, Mika Lagrén nas guitarras – com a recente saída de Magnus Martinsson da banda. Conversando com a banda após o show, Ola me disse que Magnus saiu por que não conseguia mais ficar longe de sua família – caso recorrente no Mundo da música, onde os compromissos de divulgação e turnês ocupam uma boa parte do tempo de cada músico. O grave começou seu show com um pouco de atraso, mas começam muito bem com ‘Turning Black’ do álbum “Soulless” de 1994. Uma pancada digna de acordar até o mais sonolento headbanger que ali estava. Percebe-se logo que Mika tem uma técnica um pouco diferente de dedilhado que Magnus, pois utiliza menos a palheta, dedilhando mais com os dedos mesmo. Emendada com a clássica “You’ll Never See” do álbum ‘You’ll Never See’ de 1992 o show estava praticamente fadado a ser uma bomba cheia de clássicos. A terceira música, ‘Now and Forever’, suponho que seja do álbum novo “Endless Procession Of Souls” e é praticamente um ode ao death metal. O som grave com os dedilhados de Ola Lindgren e o baixo acompanhando a velocidade de locomotiva da bateria. Empolgante! A banda volta ao ‘Soulless’ de 1994 com “Bullets Are Mine” mostrando toda a influência do death metal sueco da época emendando com ‘Morbid Way To Die’ da demo lançada há muito tempo. É raro a banda tocar músicas tão antigas em seu set – estas provávelmente tocadas no Brasil para os seus fãs mais ferrenhos. Com um riff incrível percebe-se a entrada da faixa ‘Rise’ do álbum “Back From The Grave” – um dos melhores álbuns da banda na minha humilde opinião. Fica evidente a influência de Entombed nos álbuns mais recentes da banda. Os suecos voltamo ao passado com a faixa “Deformed” e “Day of Mourning”, ambas do álbum ‘Into the Grave’ de 1991 – músicas sujas e intensas que não soaram muito legais nos amplificadores do Hangar. Foram as músicas mais difíceis de compreender do show. Interessante foi Ola anunciando “Black Dawn” do álbum ‘...And Here I Die... Satisfied’ do EP de 1993 – onde ele pede para que os fãs agitem mais. O Grave volta ao ‘Into the Grave’ de 1991 com “For Your God” e logo emendam com ‘Soulless’ do álbum auto-entitulado de 1994. A banda terminou o show com um revival do álbum ‘Into The Grave’ de 1991 com “Inhuman” e a que leva o nome do álbum terminando o show com grande estilo – praticamente um show apenas de clássicos dos anos 90 em menos de uma hora e meia de show.

Samael

Os fãs do Samael se questionavam o tempo todo se a banda realmente cometeria o pecado de vir pela primeira vez ao Brasil e não tocar nada do álbum que os consagrou como Ceremony of the Opposites, Worship Him e Blood Ritual. A informação era que eles tocariam duas a três músicas dos álbuns antigos – no máximo do Passage de 1996. Surpresa para os fãs que vieram prestigiar a banda. Após uma hora é a vez do enigmático e eletronico Samael mostrar a que veio. A banda suiça, formada por Michael “Vorphalack” Locker (vocais, guitarra), Xytras (bateria, teclado, samplers), Christophe “Masmiseim” Mermod (baixo) e Makro (guitarra) sobem ao palco com a introdução ‘Invictus’ do álbum novo “Lux Mundi”. Percebe-se logo de cara que Xytras possui não apenas seu moog e teclado, mas também uma espécie de bateria adaptada ao teclado. Eis que ali desvendava-se o enigma de como Xytras conseguia tocar a bateria e o teclado ao mesmo tempo e em pé. Vorph, vestido com uma espécie de bata chinesa e Makro com uma jaqueta meio industrial, já demonstrava que de black metal a banda nem visual mais tinha. A banda continuou no “Lux Mundi” com ‘Luxferre’ demonstrando que a banda voltou um pouco para aquele metal industrial que ajudaram a propagar nos anos 90 com o álbum Passage. Falando em Passage de 1996 eis que a banda toca Rain um dos grande clássicos da banda da fase atual. Claramente feliz em estar no Brasil, Vorph diversas vezes menciona como é importante estar naquele palco – para seus fãs e emenda o início de diversas surpresas para a noite. A primeira é o anúncio de ‘Baphomet’s Throne’, um grande clássico do álbum “Ceremony Of Opposites” de 1994 – levando o público ao delírio. Definitivamente fazia parte das exceções que a banda mencionou para a imprensa antes de vir ao nosso país. Logo depois a banda volta para “Lux Mundi” com ‘Of War’ que na opinião deste que vos escreve é a melhor músic a do álbum – com o teclado marcando o compasso, se transforma numa música viciante que gruda no seu ouvido e não sai mais. Os suiços continuam com “Slavocracy” do álbum “Solar Soul” de 2007 e emendam com ‘Reign Of Light’ – música do álbum auto-entitulado de 2004 que recebeu ótimas críticas por causa de sua ousadia eletrônica, deixando de lado qualquer lembrança de que a banda já esteve no mercado heavy metal. Mais uma surpresa. Vorph anuncia ‘Into the Pentagram’, música do primeiro EP da banda chamado “Medieval Prophecy” de 1988. A banda párecia curtir a reação do público e para não decepcionar mais duas músicas do “Ceremony of Opposites” de 1994 – ‘Flagellation’ e ‘Black Trip’ – os fãs estavam em outro Mundo e já cantavam com  banda. Carismático, Vorph aproveitava para cativar ainda mais os fãs e fazer com que os fãs das duas fases curtissem aquele momento juntos. Incrível sintonia! A banda volta para “Lux Mundi” com ‘Soul Invictus’ e logo voltam ao “Passage” com ‘Shining Kingdom’ – música que claramente empolga a todos na casa de shows. ‘In The Deep’ e ‘The Truth Is Marching On’ são mais duas do álbum novo – mostra que o experimentalismo da banda ainda não terminou, pois a banda se utiliza muito da bateria e da segunda guitarra para trazer mais peso á sua música – apesar do eletrônico que mal dava para ser ouvido através das caixas do Hangar, revoltando Xytras. A banda terminou seu set com ‘Infra Galaxia’ do álbum “Eternal” de 1999, revoltando os presentes. O público queria mais. A banda assustou pois hesitou em voltar, mas Makro volta junto com Xytras e começam ‘Ceremony of Opposites’ do álbum auto-entitulado, levando mais uma vez os fãs ao delírio. A banda definitvamente termina seu show com ‘Antigod’ do álbum novo e ‘My Saviour’ do álbum Passage com direito a corda do baixo de Mermod rompida e um público feliz – pois Samael não apenas satisfez o gosto dos que curtiam o som extremo da banda, como também os fãs novos que ali presente estavam. Um show histórico que para os fãs brasileiros significou o fim de uma Era, para o começo de outra. Apoteótico! [MF]
Atari Teenage Riot
Cine Jóia – 15.06.2012

ATR faz show marcante e mostra incapacidade de produtores de segurar a massa


Interessante como o tempo e formação não faz diferença para o Atari Teenage Riot. A banda, que volta ao mercado depois de uma década após a morte do membro fundador Carl Crack, (encontrado morto em seu apartamento em Berlin em Setembro de 2001) lançou no ano passado seu mais novo álbum “Is This Hyperreal?” e veio ao Brasil divulgar seus hinos de rebeldia e de liberdade através da voz do povo, com a ajuda do projeto Ativa Aí. Tão independente quanto a idéia musical do trio, o Ativa Aí resume praticamente a idéia de fazer uma espécie de bolão entre fãs, para trazer a banda preferida para o seu país. A banda hoje é formada mais por uma espécie de reboot do grupo ativista, formado por Alec Empire, Nic Endo e o novo recruta CX Kidtronik. O interessante do Atari Teenage Riot é que nos anos 90 eles já eram conhecidos sendo da Era do Cyber-Punk, onde a idéia e fascínio do grupo era usar a tecnologia para destruir o sistema – tornados mais em realidade em 2010. Durante a década que eles sumiram a Internet virou a ferramenta de liberdade com o networking social, roubo de identidade e problemas com o roubo de propriedade intelectual em seus “trending topics”. A realidade virtual da vida da Internet e seus pavores na “atual” realidade – e vice-versa – dá agora ao Atari Teenage Riot uma verdadeira guinada no conceito do grupo. Quando a banda sobe ao palco ás 22:30 aproximadamente, Alec Empire deixa um som ‘Activate!’ de abertura tocando antes do resto do grupo entrar e iniciar o armagedom organizacional do Cine Jóia.
A japonezinha Nic Endo pisa no palco com a sua pintura “resistência” em japonês no rosto e gritos de liberdade acompanhados por stage diving de Alec Empire acompanham o início do caos. Neste instante já não havia mais organização para fotógrafos, impossibilitados de tirarem fotos da banda por que os fãs já estavam no palco com bandeiras e máscaras de ninja. Quando a orgazniação decidiu chamar seguranças, já era tarde. Pelo menos 50 pessoas estavam naquele triângulo do Cine Jóia, sem mencionar a grande ciranda do mosh pit que havia formado em poucos minutos. A partir daquele momento a organização do show penou horrores. Mas o grupo se divertiu e interagiu com o público como este jornalista nunca havia visto até hoje. A banda continua com o holocausto musical mandando ‘The Only Slight Glimmer of Hope’; ‘Black Flags’ e ‘Shadow Identity’ sem intervalos – fazendo daqueles na pista Seres revolucionários de primeiríssima qualidade. Momentos tensos no entanto foram os que vieram a seguir com o domínio do palco do Cine Jóia pela segunda vez. Com direito a que da alto-falante e da produção inteira do show em cima do palco para conter os revolucionários, a banda mandou muito bem com ‘Into the Death’, ‘Too Dead for Me’ e o clássico ‘Atari Teenage Riot’ – não havia descanso vindo do público. O próximo a se aventurar no stage diving foi CX, se jogando em ‘Ghostchase’, onde seu microfone praticamente levou todos os amplificadores do palco junto para a pista e emendaram com ‘Re-Arrange Your Synapses’.
Alec Empire em dado momento pára a música e entoa em protesto sobre a crise financeira que abala a união européia onde a maioria do público gritava “Vai Curíntia” – claramente não entendendo a preocupação que a banda tem com o futuro das pessoas que moram na Europa. A banda seguiu com ‘Is This Hyperreal?’, ‘Codebreaker’, ‘Blood In My Eyes’, ‘Speed’ e ‘No Remorse’. Neste momento a maioria das pessoas achavam que o show havia terminado e mais protesto do público. Alec Empire volta e diz “Vocês já estão cansados? Toma isso!” iniciando com Start the Riot, levando mais uma vez a platéia a subir ao palco. Desta vez ela não desceu e ficou durante ‘Collapse of History’ e o clássico ’Revolution Action’ – entoado praticamente pelo Cine Jóia inteiro. Alec Empire ainda tentou algo cantando Kids Are United com o povo, mas se deu por vencido pela loucura que assombrava o palco. Atari Teenage Riot volta ao Brasil com um dos shows mais impressionantes que este que vos escreve já viu – incluindo sua grande interatividade com o público. O grupo, composto por apenas três integrantes é feito de liberdade, anarquia e movimento de massa. É de se pensar, se nós estamos preparados para eles. O Cine Jóia não estava. [MF]