terça-feira, julho 03, 2012

Atari Teenage Riot
Cine Jóia – 15.06.2012

ATR faz show marcante e mostra incapacidade de produtores de segurar a massa


Interessante como o tempo e formação não faz diferença para o Atari Teenage Riot. A banda, que volta ao mercado depois de uma década após a morte do membro fundador Carl Crack, (encontrado morto em seu apartamento em Berlin em Setembro de 2001) lançou no ano passado seu mais novo álbum “Is This Hyperreal?” e veio ao Brasil divulgar seus hinos de rebeldia e de liberdade através da voz do povo, com a ajuda do projeto Ativa Aí. Tão independente quanto a idéia musical do trio, o Ativa Aí resume praticamente a idéia de fazer uma espécie de bolão entre fãs, para trazer a banda preferida para o seu país. A banda hoje é formada mais por uma espécie de reboot do grupo ativista, formado por Alec Empire, Nic Endo e o novo recruta CX Kidtronik. O interessante do Atari Teenage Riot é que nos anos 90 eles já eram conhecidos sendo da Era do Cyber-Punk, onde a idéia e fascínio do grupo era usar a tecnologia para destruir o sistema – tornados mais em realidade em 2010. Durante a década que eles sumiram a Internet virou a ferramenta de liberdade com o networking social, roubo de identidade e problemas com o roubo de propriedade intelectual em seus “trending topics”. A realidade virtual da vida da Internet e seus pavores na “atual” realidade – e vice-versa – dá agora ao Atari Teenage Riot uma verdadeira guinada no conceito do grupo. Quando a banda sobe ao palco ás 22:30 aproximadamente, Alec Empire deixa um som ‘Activate!’ de abertura tocando antes do resto do grupo entrar e iniciar o armagedom organizacional do Cine Jóia.
A japonezinha Nic Endo pisa no palco com a sua pintura “resistência” em japonês no rosto e gritos de liberdade acompanhados por stage diving de Alec Empire acompanham o início do caos. Neste instante já não havia mais organização para fotógrafos, impossibilitados de tirarem fotos da banda por que os fãs já estavam no palco com bandeiras e máscaras de ninja. Quando a orgazniação decidiu chamar seguranças, já era tarde. Pelo menos 50 pessoas estavam naquele triângulo do Cine Jóia, sem mencionar a grande ciranda do mosh pit que havia formado em poucos minutos. A partir daquele momento a organização do show penou horrores. Mas o grupo se divertiu e interagiu com o público como este jornalista nunca havia visto até hoje. A banda continua com o holocausto musical mandando ‘The Only Slight Glimmer of Hope’; ‘Black Flags’ e ‘Shadow Identity’ sem intervalos – fazendo daqueles na pista Seres revolucionários de primeiríssima qualidade. Momentos tensos no entanto foram os que vieram a seguir com o domínio do palco do Cine Jóia pela segunda vez. Com direito a que da alto-falante e da produção inteira do show em cima do palco para conter os revolucionários, a banda mandou muito bem com ‘Into the Death’, ‘Too Dead for Me’ e o clássico ‘Atari Teenage Riot’ – não havia descanso vindo do público. O próximo a se aventurar no stage diving foi CX, se jogando em ‘Ghostchase’, onde seu microfone praticamente levou todos os amplificadores do palco junto para a pista e emendaram com ‘Re-Arrange Your Synapses’.
Alec Empire em dado momento pára a música e entoa em protesto sobre a crise financeira que abala a união européia onde a maioria do público gritava “Vai Curíntia” – claramente não entendendo a preocupação que a banda tem com o futuro das pessoas que moram na Europa. A banda seguiu com ‘Is This Hyperreal?’, ‘Codebreaker’, ‘Blood In My Eyes’, ‘Speed’ e ‘No Remorse’. Neste momento a maioria das pessoas achavam que o show havia terminado e mais protesto do público. Alec Empire volta e diz “Vocês já estão cansados? Toma isso!” iniciando com Start the Riot, levando mais uma vez a platéia a subir ao palco. Desta vez ela não desceu e ficou durante ‘Collapse of History’ e o clássico ’Revolution Action’ – entoado praticamente pelo Cine Jóia inteiro. Alec Empire ainda tentou algo cantando Kids Are United com o povo, mas se deu por vencido pela loucura que assombrava o palco. Atari Teenage Riot volta ao Brasil com um dos shows mais impressionantes que este que vos escreve já viu – incluindo sua grande interatividade com o público. O grupo, composto por apenas três integrantes é feito de liberdade, anarquia e movimento de massa. É de se pensar, se nós estamos preparados para eles. O Cine Jóia não estava. [MF]

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